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Combustível deve subir menos e pode ajudar inflação

19 de Novembro de 2018

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A forte queda nas cotações internacionais do petróleo, com impacto nos preços dos combustíveis no Brasil, deve contribuir para arrefecer a inflação neste fim de ano. E, salvo oscilações radicais na commodity e no câmbio, também ajudar a manter a inflação comportada no ano que vem.

As cotações do petróleo caíram 25% desde as máximas de quatro anos no início de outubro. Após recuar por 12 pregões seguidos, os preços do petróleo tipo WTI e do tipo Brent subiram em torno de 1,4% na quarta-feira. Na sexta, eles valiam US$ 56,5 e US$ 66,8, respectivamente.

Na esteira das quedas internacionais, a Petrobras reduziu sete vezes o preço da gasolina nas refinarias neste mês, num recuo acumulado de 13,58% na primeira quinzena. Nesse meio tempo, a mediana das estimativas do relatório Focus, do Banco Central, para o IPCA de novembro saiu de 0,30% para 0,15% e, para dezembro, de 0,35% para 0,26%.

Para o economista Lucas Nóbrega, do Santander, o impacto da queda dos combustíveis será maior e o IPCA de novembro vai cair 0,13%. "A deflação será basicamente por causa de combustíveis. Energia elétrica também vai contribuir com a mudança na bandeira tarifária [de vermelha 2 para amarela]", diz.

O economista não vê espaço para uma forte queda adicional da cotação do petróleo, embora avalie que a demanda possa enfraquecer diante dos sinais já existentes de desaceleração da economia mundial. "Não trabalhamos com estimativas para o petróleo, mas algo entre US$ 60 e US$ 70 o barril [do Brent] pode ser um bom palpite. Não vejo uma grande desvalorização", diz.

Se o câmbio se mantiver no atual patamar "confortável", a perspectiva é de preços de combustíveis menos pressionados em 2019. O Santander estima alta entre 2% e 2,5% para o item no ano que vem, ante avanço de 10% neste ano. O banco prevê taxa média de câmbio de R$ 3,75 em 2019, e de R$ 3,61 neste ano. O IPCA deve subir 3,8% e 4,3%, respectivamente.

Tiago Tristão, economista da Genial Investimentos, diz que 90% da variação da gasolina e do diesel aos distribuidores chegam ao consumidor em até 90 dias. "O repasse da refinaria para as bombas está ocorrendo de forma rápida e, se isso for mantido, os combustíveis terão deflação ao consumidor em novembro e talvez até em dezembro", avalia. Em outubro, o grupo transportes foi uma das principais pressões sobre o IPCA, ao avançar 0,92%, e a tendência é que fique no terreno negativo ao fim de novembro. Por ora, a Genial estima que o IPCA vai desacelerar de 0,45% em outubro para 0,15% no mês atual, mas está sob revisão para baixo.

Nas estimativas da gestora, os preços administrados, grupo em que está a gasolina, vão aumentar 7,5% neste ano. Para o próximo ano, o cenário ainda é incerto, porque dependerá do comportamento do câmbio e da oferta e demanda de petróleo, diz Tristão. Considerando a taxa de câmbio na casa de R$ 3,60, a manutenção da mesma bandeira tarifária nas contas de luz de dezembro para 2019 e, ainda, que o barril de petróleo fique entre US$ 60 e US$ 70, as tarifas monitoradas devem ter alta parecida à deste ano.

Fabio Silveira, da MacroSector, diz que petróleo em US$ 70 e dólar em R$ 3,80 seriam benignos para os preços dos combustíveis. O problema, afirma, é que são duas variáveis imprevisíveis. "A grande questão é saber em que patamar o preço do petróleo e a taxa de câmbio vão se estabilizar. Hoje, rigorosamente, não dá para dizer." O economista tem uma visão mais negativa para a inflação em 2019 e prevê alta de 5,2%, efeito dos grandes desafios fiscais de difícil solução e do cenário externo mais desafiador com alta de juros dos EUA, que pressionarão o câmbio, e preços agrícolas mais altos que os vistos neste ano.

Valor Econômico - 19/11/18

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