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Com Bolsonaro, Petrobras deve intensificar venda de ativos

23 de Novembro de 2018

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Com a escolha do economista Roberto Castello Branco para presidir a Petrobras – uma decisão pessoal do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes -, a estatal deve intensificar a venda de ativos. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, afirmou que mantém conversas com Castello Branco sobre a possibilidade de privatizar partes da empresa.

Em junho, Castello Branco defendeu a privatização da própria Petrobras e de outras estatais em artigo publicado na Folha de S.Paulo, mas, agora, descarta essa hipótese. Após o escândalo de corrupção revelado pela Operação Lava Jato, a Petrobras foi obrigada a iniciar um amplo programa de venda de ativos para equacionar suas contas e reduzir seu endividamento.

Entre as alternativas estudadas em setores como refino, distribuição, gasodutos, fertilizantes, entre outros, a Petrobras passou a buscar sócios estratégicos ou vendas de participações. As declarações dadas pelo novo governo indicam que a saída de atividades que vão além da exploração e da produção de petróleo – o negócio central da companhia – deve ganhar fôlego.

“O núcleo duro da Petrobras, a prospecção, no qual estão a inteligência e o conhecimento, isso não vai ser privatizado. Agora, podemos negociar distribuição e refino. Isso pode ser negociado – afirmou o vice-presidente eleito, General Hamilton Mourão. Um dos primeiros desafios com os quais Castello Branco deve se deparar à frente da companhia é a defesa da política de preços da estatal. Em 31 de dezembro, está previsto o fim da política de subsídio ao óleo diesel, adotada pelo governo para encerrar às pressas a greve dos caminhoneiros, em maio.

Desde então, a Petrobras pratica preço com desconto para o diesel (mediante ressarcimento) e repassa para o valor cobrado da gasolina nas refinarias a flutuação das cotações do petróleo e do dólar. Um mecanismo de hedge (proteção) fez com que os repasses deixassem de ser praticamente diários, o que permite intervalos de até 15 dias. A adoção de uma política de preços própria foi considerada um divisor de águas para o mercado financeiro, que penalizava as ações da estatal em razão da interferência da União. No passado, o governo represava o aumento dos combustíveis para evitar impacto na inflação.

Bolsonaro disse que está conversando com Guedes e Castello Branco sobre a política de preços. Ele ressaltou que o novo presidente da Petrobras foi uma escolha pessoal de Guedes. O futuro ministro da Economia chegou a fazer elogios ostensivos ao atual comandante da estatal, Ivan Monteiro, mas queria contar com Castello Branco, que ajudou o economista na preparação de proposta para as privatizações, em um posto-chave.

Com passagens pelo Banco Central e pela Vale, o economista tem visão alinhada com a de Guedes. Os dois estudaram na Universidade de Chicago, um dos principais celeiros do pensamento neoliberal. Fontes ligadas à Petrobras elogiaram a escolha de Castello Branco, que já fez parte do conselho de administração da companhia em 2015. Aos 74 anos, Castello Branco ocupa, atualmente, o cargo de diretor do Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento da Fundação Getulio Vargas (FGV). Economista com pós-doutorado na Universidade de Chicago, ele também desenvolveu projetos de pesquisa na área de petróleo e gás.

Em 1985, durante o governo de José Sarney, foi diretor do Banco Central. E passou 15 anos na mineradora Vale. O executivo é conhecido como forte defensor da política de corte de custos, inclusive de benefícios. As divergências sobre a condução da companhia teriam levado à saída do conselho da estatal, que era presidida à época por Aldemir Bendine, indicado pela então presidente Dilma Rousseff.

Segundo fontes próximas da equipe econômica, Guedes ficou impressionado com Monteiro e coloca em sua conta a reestruturação da Petrobras. O futuro ministro teria inclusive recebido pedidos de dentro da empresa para que ele permanecesse no cargo.

Desafios adiante

1. Política de preços após fim do subsídio ao diesel. Para o fim do ano, está previsto o fim do subsídio ao diesel, solução encontrada às pressas pelo governo Michel Temer para encerrar a greve dos caminhoneiros, em maio, que parou o País e causou uma crise de desabastecimento. Até o fim do ano, o preço do diesel segue com desconto, enquanto o valor da gasolina na refinaria reflete as flutuações da cotação do petróleo e do dólar.

2. Conclusão da venda do controle da Braskem Desde meados deste ano, a Petrobras participa de discussões para a venda do controle da Braskem. A estatal é sócia da maior empresa petroquímica da América Latina, com fatia de 47% do capital votante da companhia, junto com a Odebrecht. A expectativa é que a holandesa LyondellBasell compre o controle da petroquímica, e a Petrobras teria a opção de se desfazer de sua fatia ou permanecer como sócia.

3. Corte de custos e redução do endividamento A Petrobras, que já foi considerada a petroleira mais endividada do planeta, conseguiu reduzir seu débito total de um patamar próximo de R$ 500 bilhões, em 2015, para cerca de R$ 350 bilhões. Ainda assim, o volume é alto. A mudança foi alcançada graças a cortes de custos e à adoção de uma seleção mais criteriosa de investimentos, que passaram a ser mais concentrados na exploração do pré-sal.

4. Destravar vendas de refinarias e de gasoduto do Nordeste Liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a privatização de estatais só pode ser feita com aval do Congresso. A decisão levou a Petrobras a suspender a venda de fatias em quatro refinarias, que representam 37% da capacidade de refino no País, e de sua rede de gasodutos do Nordeste. Sem isso, a Petrobras não alcançará a meta de levantar US$ 21 bilhões com a venda de ativos entre 2017 e 2018.

Jornal do Comercio - 23/11/2018 

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