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Ciclo de alta do petróleo e minério de ferro ainda não chegou ao fim

19 de Setembro de 2018

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A tendência de alta dos preços de minério de ferro e petróleo ainda não chegou ao fim, com espaço para novas valorizações no curto e médio prazo, avalia Thomas Stahl, diretor geral e chefe global da cobertura de commodities do Deutsche Bank.

"No momento, é muito difícil pra mim ter em vista uma nova queda brusca dos preços do petróleo. Não vejo um retorno para os patamares de US$ 55 a US$ 60 o barril", disse Stahl, em entrevista concedida ao Valor durante uma de suas muitas passagens pelo Brasil. "Eu, pessoalmente, acho que poderemos ter novamente um cenário com o petróleo a US$ 100 o barril", completou.

O principal motivo para isso é a volatilidade geopolítica, como por exemplo as sanções econômicas internacionais aplicadas ao Irã neste ano, que removeram uma grande oferta da commodity dos mercados e ajudaram a impulsionar os preços a patamares não vistos desde 2014, ano que começou com o Brent acima de US$ 100 o barril e terminou perto de US$ 50.

"Vivemos agora um período em que as petroleiras se concentraram muito em limpar e arrumar os balanços e projetos investidos, reduzindo custos e focando nas melhores oportunidades", disse Stahl. Ao mesmo tempo, a demanda está em alta, apesar de todas as iniciativas visando incentivar mobilidade elétrica no lugar de combustíveis fósseis.

Ainda que o petróleo não convencional ("shale") esteja disponível em abundância nos Estados Unidos e com período de produção curto, as maiores oportunidades em exploração e produção de petróleo estão em águas profundas, o que ajuda a reforçar a perspectiva de que os preços seguirão elevados. "Esses projetos demoram muito para entrar em operação plena. Até lá, vai haver muito capex [investimento de capital] envolvido", afirmou.

O ciclo de alta também não está concluído no caso do minério de ferro, especialmente os que têm maior teor de pureza. "Hoje, temos menos volatilidade nos preços porque há muita consolidação dos clientes, principalmente na China, e não há projetos grandes em momento de aceleração da produção no mundo", afirmou o executivo. Para ele, quando houver redução no crescimento global, haverá impacto nos níveis de produção de aço, consequentemente afetando as cotações do minério de ferro. "Acho que o cenário mais provável é o de aumento dos preços da commodity", completou.

O executivo do Deutsche Bank aposta em novos projetos de produção de minério. "Os balanços das mineradoras estão em ordem, todas elas estão sentadas em pilhas de dinheiro", disse, se referindo ao caixa das empresas.

"Não estaria surpreso se houver uma nova onda de grandes projetos acontecendo", disse. Ainda assim, eles levariam de três a seis anos para entrarem em funcionamento. "Mesmo quando isso acontecer, se a demanda se mantiver, vamos ter volatilidade nos preços", apontou.

A África é a principal região do globo que ainda não explorou intensivamente seus recursos naturais, mas há muitas dificuldades que ainda limitam novos projetos na região. A Rússia também tem oportunidades, mas a instabilidade política limita novos investimentos. "A Austrália ainda tem muito potencial. Não vejo nada nos Estados Unidos. O Brasil pode ser uma opção", disse.

O principal problema do país ainda é a instabilidade regulatória e política. "O investidor que está disposto a tomar o risco de vir ao Brasil pode não ser aquele para o qual nos sentimos confortáveis em financiar projetos."

A perspectiva para preços de celulose diverge das demais commodities. Segundo Stahl, não há tendência de alta, mesmo sem projetos grandes de produção em vista. "Eu ficaria surpreso de ver uma alta motivada pela falta de projetos. Antes de isso acontecer, já teremos três novos em construção, que entrarão no mercado e vão segurar os preços. Sempre foi assim o jogo do setor."

Valor Econômico – 19/09/2018

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