04 de Setembro de 2017
Notícias
O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) espera superar com tranquilidade a disputa com a BNDESPar, braço de participações do BNDES que faz parte de seu quadro de acionistas, e pretende abrir o capital em 2021.
A medida será possível uma vez que o CTC, que faturou R$ 132,8 milhões na safra 2016/17, recebeu a aprovação para comercializar a primeira cana transgênica do mundo, catapultando-o ao patamar de "companhia de biotecnologia".
O objetivo é lançar ações na B3 (ex-Bovespa) e na americana Nasdaq, que concentra a listagem de empresas de biotecnologia e onde os investidores já estão acostumados ao setor, afirmou o presidente do CTC, Gustavo Leite.
A medida já estava prevista quando o CTC negociou a entrada da BNDESPar em seu capital, em 2014, mas a perspectiva era fazer o IPO em 2023, cumprindo o prazo máximo de sete anos após o registro na bolsa. Mas a autorização para comercializar cana com o gene tolerante ao inseto da broca-da-cana, concedida em junho pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), permitiu antecipar o plano.
Até 2021, a empresa pretende começar a colher os frutos desse seu primeiro investimento em transgenia. Dessa forma, quando apresentar seu pedido de abertura de capital, o CTC pretende ter em mãos resultados para mostrar aos potenciais investidores, disse Leite.
Em um prazo ainda mais curto, o CTC espera que a Câmara de Arbitragem do Mercado (CAM), da B3, resolva a disputa com a BNDESPar, que deixou de realizar um aporte de R$ 90 milhões, como acertado em acordo de acionistas.
Enquanto a BNDESPar afirma que "as disponibilidades da companhia seriam suficientes para fazer frente às necessidades de caixa" desta safra, o CTC diz que não havia condicionantes para o aporte. Questionada sobre a perspectiva para a decisão da Câmara, a BNDESPar preferiu não comentar. O CTC disse esperar que a questão se resolva "o quanto antes".
Leite minimizou o impacto da disputa. "Temos um relacionamento aberto com eles. Isso não é um grande risco", disse. Em nota, a BNDESPar afirmou que "continuará sócia da companhia, apoiando o CTC na implementação do seu plano de negócios e na sua trajetória para realizar um IPO nos próximos anos, um dos objetivos institucionais da subsidiária de participações do BNDES".
A tarefa mais complexa até o IPO, segundo o executivo, será ao menos manter o ritmo de crescimento das vendas – hoje em 20% ao ano – para ganhar participação de mercado. As variedades comercializadas pelo CTC atualmente, todas convencionais, estão em 12% a 13% da área cultivada com cana no país. A meta é ampliar essa participação para 20% até 2021, quando o centro pretende apresentar aos investidores a projeção de elevar a fatia para entre 40% e 50% na década subsequente.
A empresa também espera chegar em 2021 com uma margem compatível com a de uma empresa de biotecnologia, em torno de 20%, segundo Leite, que já presidiu a Monsanto no Brasil e no Canadá. Na safra 2016/17, a margem Ebitda do CTC foi de 13,5%.
Com a abertura de capital, o CTC pretende fortalecer os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, hoje em R$ 200 milhões por ano. Desse montante, mais da metade é destinada ao desenvolvimento de variedades de cana e pesquisas com transgenia. O restante é destinado à planta-piloto de etanol celulósico e ao desenvolvimento de sementes.
O próximo passo do CTC é inserir na cana um gene resistente ao bicudo – que ataca a planta – e outro gene tolerante a herbicidas, sobretudo o glifosato. A ideia é que as três transgenias ocorram concomitantemente nas plantas.
O negócio de biotecnologia do CTC deve ganhar impulso com o laboratório que a empresa deve instalar nos Estados Unidos, onde o acesso a fornecedores de insumos é mais fácil. O local da unidade deve ser apresentado ao conselho de administração até o fim do ano. A preferência é pela região de Saint Louis, o "Vale do Silício" da biotecnologia.
Enquanto a empresa tem apenas um evento transgênico aprovado, a tarefa é replicar a técnica em suas mais de dez variedades de cana adaptadas a diferentes microclimas. Além disso, o CTC busca garantir que o açúcar produzido a partir da cana transgênica tenha as vendas aprovadas fora do Brasil. Por isso, já pediu autorização nos EUA e no Canadá, e até março deve requerer o aval a Japão, Rússia, China, Índia, Tailândia, Taiwan e Coreia do Sul.
A expectativa de Leite é que essas aprovações ocorram em dois a três anos, quando as usinas brasileiras devem começar a processar a cana geneticamente modificada. Nos primeiros anos, as mudas transgênicas ficarão nos viveiros das usinas, sendo replicadas até atingirem escala para produção comercial
(Fonte: Valor Econômico - 01/09/17)
Veja também
18 de Abril de 2024
Futuro do setor bioenergético brasileiro é tema de debate da Revista CanaOnlineNotícias
18 de Abril de 2024
Brasil apoia iniciativa indiana para sediar Aliança Global de BiocombustíveisNotícias
18 de Abril de 2024
Produtores brasileiros de etanol podem ser os primeiros beneficiados da indústria de SAFNotícias