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Brasil vai liderar alta na oferta de petróleo fora da Opep, diz AIE

29 de Janeiro de 2018

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A produção brasileira de petróleo vai ter o maior crescimento do mundo nas próximas duas décadas entre países fora da Opep, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), que aposta no sucesso do próximo leilão do pré-sal e exorta o futuro governo a manter políticas de abertura no setor - como o fim da exigência de ter a Petrobras como operadora única dos campos em águas ultraprofundas e a flexibilização do conteúdo local.

"Não sabemos quem ganhará as eleições, mas a indústria do petróleo no Brasil está indo na direção correta", disse ao Valor o diretor-geral da agência, Fatih Birol. "Isso está confirmado pelo interesse cada vez maior das empresas estrangeiras. Seria uma pena se o próximo governo adotasse algum recuo nas reformas."

Com o êxito dos últimos leilões e um desenvolvimento mais acelerado do pré-sal, as estimativas da AIE apontam aumento na produção dos atuais 2,6 milhões de barris para até 5,2 milhões de barris por dia em 2040. Isso corresponde a 27% do crescimento mundial na extração de petróleo durante esse período e à maior expansão fora da Opep, cartel de grandes exportadores liderado pelos países do Oriente Médio.

No horizonte mais curto, de cinco anos, a agência projeta 1 milhão de barris adicionais por dia na produção brasileira - um acréscimo inferior somente ao dos Estados Unidos, mas acima de Canadá e México, outros dois países empenhados em impulsionar a exploração de suas reservas.

Em entrevista no Fórum Econômico Mundial, realizado na semana passada em Davos, Birol - economista turco que chegou à AIE como analista aos 37 anos e tornou-se diretor-geral em 2015 - ainda curtia um presente "especial" recebido na véspera. Era uma camisa da seleção brasileira autografada pelos 11 titulares. Gesto do ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, que se movimentou para conseguir o agrado com a CBF.

"Ele ama futebol. Aí tive essa ideia", disse o ministro. Sem a Turquia na Copa do Mundo, Birol garante que "com certeza" torcerá pelo hexacampeonato do time de Neymar e Philippe Coutinho.

Fora de campo, a relação do Brasil com a AIE mudou de patamar. O país associou-se à agência no fim de outubro, abrindo caminho para a oferta de treinamentos e cursos na área de energia, visitas de especialistas para fazer diagnósticos de políticas públicas, troca de informações técnicas e acesso a novos estudos.

Uma das primeiras contribuições será o envio de analistas da AIE para a reforma do marco regulatório do gás. Eles vão relatar às autoridades brasileiras sua experiência com as práticas internacionais. Enquanto isso, a agência quer aprender com o etanol.

"Os biocombustíveis continuam uma boa opção e não devem ser vistos como uma aposta no passado. Em muitos países, eles podem ser competitivos. Também são importantes para caminhões. As vendas de carros elétricos no ano passado foram recorde e serão parte da solução, mas não a solução completa. O futuro nos reserva uma combinação de motores mais eficientes, veículos elétricos e biocombustíveis."

Birol avalia que as medidas recentes para estimular a indústria de petróleo no Brasil - nova lei retirando obrigatoriedade da Petrobras, índices mais baixos de conteúdo nacional, prorrogação do Repetro - surtiram efeito positivo nos dois últimos leilões do pré-sal. Ele prevê sucesso para a 4ª rodada sob o regime de partilha, já programada para junho.

"Acredito que também vai atrair enorme interesse", afirmou o diretor, lembrando que as cotações melhoraram desde o último certame. "Se o Brasil continuar com um ambiente favorável aos negócios no setor, a contribuição para os mercados internacionais de petróleo será muito grande."

O economista volta ao futebol para explicar a alta recente da commodity. A cotação do brent saiu de menos de US$ 50 para a faixa de US$ 70 entre o início e o fim do segundo semestre de 2017. E tem se mantido nas primeiras semanas deste ano, em um movimento gradual, mas consistente.

Para ele, isso se deve a dois fatores: a aceleração do crescimento da economia global e a estabilidade na produção dos países da Opep, que não aumentaram sua oferta para acompanhar essa retomada da demanda. Mas ele interpreta esse pequeno rali de preços como passageiro. "É como uma partida de futebol. Estamos vendo o primeiro tempo. Com o barril a US$ 70, entra em cena mais petróleo de fontes não convencionais. Isso joga mais óleo no mercado e empurra os preços para baixo. O que importa é o resultado ao final dos 90 minutos."

A atual faixa de preço, segundo Birol, é mais do que suficiente para incentivar a produção americana de xisto. Até porque os custos da indústria baixaram nos últimos anos. "Mais de 80% das reservas de 'shale' que temos se tornam lucrativas a partir de US$ 50", diz. Na avaliação dele, no médio prazo o preço de equilíbrio nos mercados deve girar em torno de US$ 60 por barril. "Mas o nome do jogo será volatilidade."

Fonte: Valor Econômico - 29/01/2018

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