Notícias

Brasil vai estudar impacto de mudança climática no planejamento do setor elétrico

18 de Outubro de 2017

Notícias

O Brasil vai contratar estudos para avaliar os impactos da mudança climática sobre seu setor elétrico, altamente dependente de hidrelétricas e com crescente presença de fontes renováveis também sujeitas ao clima, como usinas eólicas e solares.

O levantamento será bancado pelo Ministério de Minas e Energia com recursos de empréstimo viabilizado por meio de um convênio com o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), segundo publicação da pasta no Diário Oficial da União desta terça-feira.

"Esta consultoria possui um caráter estratégico para o setor elétrico e a troca de experiências, aproveitando a expertise técnica de diversos especialistas, e é fator relevante para que o setor avance em sua agenda de adaptação aos efeitos das mudanças do clima", afirma um documento produzido pelo governo para guiar os trabalhos.

As hidrelétricas respondem por mais de 60 por cento da capacidade instalada de geração do Brasil.

Outros quase 10 por cento da capacidade do país são de usinas eólicas, enquanto as plantas solares ainda são menos de 1 por cento.

Os efeitos do aquecimento global podem gerar inundações ou secas, com grande impacto sobre a produção das hidrelétricas, ou mesmo afetar o comportamento dos ventos e do sol de maneira ainda não prevista.

O professor da Universidade de São Paulo (USP) e consultor em energia Dorel Ramos lembrou que tanto o planejamento do futuro quanto a operação do sistema elétrico no presente são guiados por cálculos que têm como base um histórico de chuvas nas áreas das hidrelétricas desde 1931 --um padrão que pode ter passado por mudanças.

"A questão é, será que isso continua valendo?", questionou. "É uma questão polêmica no setor. Isso afeta diretamente a vida dos empreendimentos existentes, e particularmente o dimensionamento dos futuros", completou.

Além de dificultar o planejamento da geração, a mudança no clima pode impactar também no consumo, ao aumentar a demanda por ar condicionado, por exemplo, disse o presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Energia Elétrica (ABCE), Alexei Vivan.

Ele também elogiou a atitude do governo de encomendar um estudo técnico sobre o tema.

"A frequência de incidência de eventos (climáticos) mais severos parece que está acontecendo em um ciclo diferente. Conhecer o impacto que essas mudanças têm nesses ciclos vai tornar nosso planejamento mais confiável e deixar o setor elétrico preparado para o que está por vir", disse Vivan.

O dirigente da associação que representa investidores em eletricidade ressaltou ainda que alguns eventos climáticos podem ter graves efeitos financeiros sobre as empresas do setor, como aconteceu em 2015, quando uma seca reduziu fortemente a produção das hidrelétricas brasileiras.

Com isso, o mercado de energia elétrica passou a conviver desde meados de 2015 com uma disputa judicial bilionária iniciada por empresas que tiveram perdas com a menor geração das usinas hídricas naquele ano.

Atualmente, o governo federal tenta fechar um acordo entre as companhias para acabar com a briga. A solução deve ser uma mudança na legislação para compensar parcialmente as empresas pelos prejuízos, que pode ser viabilizada em uma medida provisória atualmente em preparação em Brasília.

O estudo

O estudo que será contratado deverá levantar o nível de vulnerabilidade do setor elétrico em relação às mudanças climáticas, segundo o governo, que avalia que os efeitos parecem já estar presentes.

"Dados do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas indicam que as diferentes regiões do Brasil já vêm experimentando alterações em seus climas característicos, em alguma medida... um aumento na temperatura poderá conduzir a um incremento na frequência de eventos extremos", afirma um termo de referência para os trabalhos produzido pelo governo.

O relatório a ser entregue pela consultoria contratada também deverá analisar a consistência das projeções de dados climáticos para a simulação da geração de usinas hídricas, eólicas, solares e de biomassa num horizonte até 2050.

O material também deverá abordar metodologias para projeção de vazões em uma bacia hidrográfica considerando alterações nos padrões de uso da água ao longo do tempo e cenários de mudança climática. A avaliação deverá utilizar como referência a bacia do rio São Francisco, num período até 2050.

O prazo previsto para conclusão dos trabalhos é de até 240 dias após a emissão da ordem de serviço.

(Fonte: Reuters – 18/10/17)

Veja também