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Brasil decide taxa de importação de etanol dos EUA no momento em que Trump intervém no setor

21 de Agosto de 2019

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O Brasil e os Estados Unidos vão se deparar novamente com discussões de política de importação e de exportação de etanol neste final de mês.

O Brasil aplica atualmente uma taxa de 20% no volume do produto americano importado que exceder 600 milhões de litros. Essa taxa foi estipulada por dois anos e termina no próximo dia 31.

Independentemente do que for definido, Brasil e Estados Unidos vão continuar interferindo um no mercado do outro, com ou sem taxa.

E isso ocorre porque os dois países, principais produtores e consumidores mundiais, não conseguiram promover o tão esperado mercado mundial para essa commodity.

Brasileiros e americanos investiram muito na produção do combustível a partir dos anos 2000, acreditando em um crescimento do mercado mundial, o que não ocorreu.

Europa, Japão e outros países da Ásia pouco avançaram na utilização desse combustível renovável, tornando as negociações de etanol praticamente restritas entre os brasileiros e os americanos.

Os dois países tentam agora uma abertura comercial, e o ideal seria um mercado livre no setor sucroenergético.

Os Estados Unidos, porém, impõem uma barreira pesada para o Brasil, limitando as importações de açúcar do país em 150 mil toneladas por ano.

Uma relação comercial sem barreiras em ambos os produtos permitiria aos produtores dos dois países manter um fluxo de compra e venda conforme as oportunidades de momento, sem as amarras protecionistas.

O mercado de etanol é um setor de muita interferência governamental, tanto no Brasil como nos Estados Unidos. As indústrias brasileiras sentiram muito essa ingerência do governo nos últimos anos.

É o que ocorre nos Estados Unidos no momento. O presidente Donald Trump, após liberar a mistura de 15% de etanol na gasolina durante o ano todo —antes era permitida em apenas parte dele— e dar um alívio aos produtores, agora está isentando pequenas empresas da mistura de etanol.

A isenção contempla as empresas que apresentarem dificuldades financeiras, mas boa parte delas está nas mãos de multinacionais do petróleo. Na avaliação dos produtores, é retirar dinheiro do campo e repassar para as grandes corporações.

O resultado é que a demanda pelo etanol cai e os preços do combustível recuam. Essa queda de demanda interna nos Estados Unidos deve afetar ainda mais o caixa das indústrias de etanol porque as portas da China, ao contrário do que elas imaginavam, se mantêm fechadas para o combustível americano.

Esse cenário respinga também sobre os produtores de milho. A safra atual do cereal ficará acima do que se previa inicialmente, e a demanda pelo produto será menor nas usinas de etanol. Os preços já mostram tendência de queda.

Sem as exportações para a China e com demanda interna menor —devido a um possível ritmo mais fraco da economia provocado pela guerra comercial—, os americanos vão olhar com mais atenção para o mercado brasileiro.

Ira dos produtores:  Donald Trump conseguiu desagradar donos de usinas de etanol e produtores de milho do Meio-Oeste dos EUA ao liberar as pequenas refinarias da mistura de etanol à gasolina.

Entrave interno: Para alguns representantes do setor, além de complicar as exportações, devido à guerra comercial com a China, Trump agora atrapalha o mercado interno.

Ameaças:  Produtores insatisfeitos com a ação do presidente dizem que poderão votar em um candidato do Partido Democrata nas próximas eleições. A pauta de Trump, porém, casa muito bem com o pensamento do meio rural.

Folha de São Paulo - 21/08/2019

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