31 de Julho de 2020
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Puro ou mesmo misturado à gasolina, o biocombustível mais limpo do mundo é a melhor opção para a mecânica do seu carro. Saiba o porquê.
O Portal AgroSaber foi desafiado por um de seus leitores na semana passada. Depois de elaborarmos a lista “12 razões para abastecer o carro com etanol”, um internauta retrucou com 12 motivos para fugir do biocombustível. Segundo ele, o etanol ajudaria a danificar o carro e reduzir o tempo de vida de peças e do motor. Estaria ele certo?
A interação dele foi excelente, pois nos faz cumprir a missão de esclarecer toda e qualquer dúvida, afinal, a pior praga é desinformação. Portanto, resolvemos investigar o assunto a fundo e consultamos uma ótima fonte de informação: o tecnólogo em automação e microprocessadores, Marco Aurélio Fróes, de Santo André (SP).
Fróes tem uma experiência de 41 anos na indústria automobilística e há 13 anos é professor de ensino superior em Tecnologia Automobilística nas áreas de Mecânica, Eletrônica e Mecatrônica na Faculdade de Tecnologia (Fatec) Santo André, gerenciada pelo Centro Paula Souza (CPS).
O especialista esclarece ao internauta e a todos que ainda têm dúvidas sobre o uso do etanol que o biocombustível, de fato, só traz vantagens para o meio ambiente e para o carro.
“A pessoa que escreveu a lista ficou estigmatizada com os primeiros anos dos carros flex fuel no Brasil e esqueceu dos avanços tecnológicos que aconteceram depois”, diz Fróes. “Hoje a história é outra. Posso dizer que nenhum outro país conseguiu desenvolver um carro de dupla aptidão de combustíveis como o Brasil.”
De fato, houve uma série de problemas a partir do lançamento dos primeiros modelos do automóvel, em 2003. No entanto a indústria conseguiu contornar todos os desafios. Confira nessa lista o que é VERDADEIRO ou FALSO sobre o uso do etanol, puro ou misturado à gasolina.
1- O etanol entope os bicos injetores, os giclês do carburador, a bomba injetora, e resseca as mangueiras e todo o sistema injetor?
FALSO! Desde os primeiros motores movidos a etanol, um dos principais desafios foi combater a corrosão dos componentes em contato com o biocombustível. Na metade da década de 1980, os desafios foram superados com o revestimento de níquel químico nos carburadores e bombas de combustíveis, tratamentos de zinco nos tanques de combustível e sistema de escapamento. Muitos avanços tecnológicos dos motores a etanol migraram para os motores a gasolina. A evolução continuou nos motores flex fuel: as peças como as válvulas e bicos injetores, bombas de combustível, filtros, tubulações e mangueiras já possuíam materiais como borrachas e revestimentos resistentes aos processos corrosivos do etanol. A vida útil destes componentes, hoje, é similar e, em alguns casos, até superior aos usados nos motores movidos exclusivamente à gasolina.
2- O biocombustível estraga as velas do carro?
FALSO! As velas de ignição da atualidade evoluíram bastante. Hoje as peças são feitas de platina ou irídio. Para se ter uma ideia, o componente é substituído a cada 60 mil quilômetros rodados ou até mais. Em 1979, quando se utilizava somente a gasolina, as peças eram substituídas a cada 15 mil quilômetros.
3- O etanol provoca o desgaste mais rápido do cabeçote?
FALSO! O principal problema relacionado ao cabeçote era o do desgaste das sedes de válvulas e válvulas do cabeçote (eita, tecniquês de mecânica automotiva. Ninguém merece, né, rs? Veja neste link que raios são as tais “sedes” além de ver como é funcionamento de um motor). Atualmente se utiliza sedes produzidas em aço sinterizado e as válvulas também possuem tratamentos anticorrosivos especiais.
4- O etanol desgasta mais rápido a câmara de explosão?
FALSO! Pelo contrário. Devido as reduzidas emissões, formação de depósitos na câmara de combustão e a característica de não se misturar com o óleo lubrificante, o etanol puro e mesmo misturado à gasolina garante mais resistência a todas as peças referentes à queima do combustível, incluindo os cilindros e anéis de segmento. É a gasolina que mais ajuda a deteriorar as peças. Sozinha, ela atua como diluente dos lubrificantes, reagindo como uma substância de deterioração das peças. Novamente o etanol eleva a vida útil dos componentes do carro.
5- O etanol enferruja o escapamento?
FALSO! Os novos escapamentos são produzidos com materiais resistentes como aço zincado e a tubulação primária do escape já é fabricada em aço inox.
6- Ele desgasta da sonda lambda?
FALSO! O desgaste da sonda lambda ou o sensor de oxigênio indica a presença do gás após a combustão. Como a combustão é um processo de oxidação extrema de moléculas, a presença do oxigênio no gás de escape é um indicador da mistura ar e combustível em função do regime de trabalho do motor, com isso, se possibilita o controle da quantidade de combustível a enviar para o motor. A peça deteriora mais rápido com impurezas no sistema, mas como a combustão do etanol é mais limpa, então, o biocombustível novamente aumenta o tempo de vida desta peça, também.
7- O etanol faz o carro consumir mais combustível por quilômetro rodado?
VERDADEIRO! Segundo Fróes, esta é a única observação verdadeira sobre o uso de etanol como combustível. “Vale destacar que, neste caso, está se levando em consideração somente a autonomia do veículo por tanque de combustível abastecido”, diz Fróes.
8- O etanol eleva o gasto com manutenção do carro?
FALSO! Até agora, o biocombustível só proporciona benefícios à mecânica dos carros, então não eleva o custo de manutenção.
9- O uso do etanol reduz a vida útil do motor no geral?
FALSO! A redução da vida útil do motor, no geral, não tem a ver com o combustível utilizado, mas quanto às revisões e manutenções periódicas. Menos manutenções refletem numa vida menor do motor.
10- O etanol enriquece os donos de usinas de álcool?
FALSO! Não é especificamente o etanol que enriquece uma pessoa ou uma empresa, e sim a gestão adequada. A verdade é que muitas usinas de cana ainda sentem os solavancos de crises, desde 2008, ora pela quebra de safra provocada por adversidades climáticas, ora pela competição desleal com a gasolina, que é um combustível fóssil e mais poluidor. Mas o balanço geral é que o setor sucroenergético representa uma mola propulsora da economia, distribuindo riquezas pelos municípios onde há usinas ou plantações e para o País.
11- O custo do etanol por quilômetro rodado também é alto?
FALSO! Segundo Fróes, a vantagem é do etanol se for analisado o custo do abastecimento (R$) e a relação com a quilometragem rodada derivada da autonomia do tanque. Confira nessa outra matéria a explicação dessa conta.
12- O etanol não dá partida em dias frios?
FALSO! Foi, de fato, uma aflição para os motoristas no final de década de 1970 e início da década de 1980 e nas primeiras versões dos motores flex fuel. Mas o problema foi resolvido com novas tecnologias de partida eletrônica a frio ainda usando gasolina como auxiliar de partida e, mais recentemente, sistemas de aquecimento do etanol em uso que dispensam o combustível auxiliar de partida a frio.
13- A mistura de 27% de etanol reduz a eficiência da gasolina?
FALSO! O etanol ajuda inclusive a gasolina, elevando o poder de antidetonante do combustível fóssil, tornando-o, então, mais seguro para o motor. Além disso, ele contribui na queima da gasolina e na redução de emissão de gases de efeito estufa (GEEs). O biocombustível é uma importante ferramenta do agro para o meio ambiente e para a sustentabilidade.
Fonte: Portal AgroSaber – 30/07
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