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Agropecuária mineira vai muito além do café com leite

09 de Setembro de 2019

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A secretária de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Ana Maria Soares Valentini, destaca que Minas ocupa o primeiro lugar nacional na produção de morango e batata

 

Há muito se fala que a economia de Minas precisa ser diversificada para acabar com a dependência da mineração. A agricultura, especificamente, passa pelo mesmo problema de dependência do leite e do café?

 Realmente, a diversificação permite a redução de riscos e incertezas, além de reduzir o impacto econômico pelo surgimento de crises em um determinado setor. No caso da agropecuária, podemos registrar que, atualmente, o café e o leite são os principais produtos e têm importância com relação aos aspectos econômicos e sociais. Mas o Estado ocupa, no cenário nacional, um papel relevante com outros produtos agropecuários, como: primeiro lugar em área plantada de eucalipto, primeiro lugar na produção de morango e batata; segundo na produção de feijão, cana-de-açúcar, alho e flores; terceiro em tomate, banana e laranja; quarto na produção de trigo; quinto e sexto lugares na produção de milho e soja, respectivamente. Da mesma forma, pode-se constatar na pecuária a relevância em relação ao efetivo rebanho de equinos (primeiro lugar); bovinos, aves de postura e codornas (terceiro), suínos (quarto) e frangos de corte (quinto).

 Qual o papel do Estado no incentivo à diversificação da agricultura? Que medidas são adotadas nesse sentido?

 Existe uma diversidade na produção agropecuária no Estado. No entanto, existe também uma necessidade de que as políticas públicas estejam sempre fortalecendo e ampliando atividades que apresentem potencial, a exemplo da piscicultura e da fruticultura, entre outras. Outra política agrícola importante é a do incentivo ao uso de sistemas de irrigação, pois é uma forma de ampliar a produtividade sem expansão de áreas e viabilizar a utilização no período de veranico, reduzindo as perdas na safra de verão.

 Existe algum plano de apoio do Estado à organização de uma bacia leiteira no Norte de Minas, por exemplo, com perspectiva de se criar uma verticalização, com aproveitamento do leite para a produção de queijo e outros derivados? 

 O Norte de Minas é importante na pecuária bovina, pois responde por 12% do rebanho do Estado e tem expressivo envolvimento de pequenos e médios produtores na atividade. A redução das chuvas, nos últimos anos, impactou as áreas de pastagens e, consequentemente, houve uma diminuição de animais. Em razão disso, parcerias têm sido firmadas com os agentes financeiros para viabilizar recursos. É muito importante que a verticalização ocorra, tanto na reativação e implementação de plantas frigoríficas e de laticínios, como para promover melhoria na produção dos queijos. Principalmente neste momento em que os queijos mineiros estão sendo reconhecidos nacional e internacionalmente, um intenso trabalho tem sido desenvolvido pela Seapa e suas vinculadas (Emater-MG, Epamig e Instituto Mineiro de Agropecuária – IMA), em parceria com outras entidades, no sentido de criar um marco legal que possibilite a regularização dos queijos. Está sendo construído o Decreto de Regulamentação dos Queijos Artesanais de Minas Gerais e Agroindústria de Pequeno Porte, que inclui os queijos tradicionais do Norte do Estado. Nessa regulamentação, há estratégias de valorização da transformação do leite cru em queijos e também em outros derivados lácteos. Além disso, é importante destacar o trabalho de assistência técnica da Emater-MG com foco na melhoria da qualidade do leite e estruturação de um conselho que será responsável pela construção de diretrizes de fortalecimento do setor.

 Historicamente, produtores de leite se queixam de que pagam para produzir. O produto já foi incluído na pauta da Política de Garantia de Preços Mínimos? 

 A Política de Garantia de Preços Mínimos já foi instituída, e a Conab é a responsável pela divulgação dos preços. Além disso, Faemg, Ocemg e Silemg implementaram, neste ano, o Conseleite, um conselho paritário com a participação de representantes da indústria e produtores que, mensalmente, publica o valor de referência do leite padrão. Essa iniciativa permite aos produtores acompanhar o valor sugerido e comparar com o recebido. É um avanço na discussão sobre o preço do leite a ser praticado pela indústria em Minas Gerais.

 Está em curso algum contato ou negociação com grande laticínio para se instalar em Minas, ou expandir uma operação já existente? 

 Há iniciativas nesse sentido, como a assinatura de um protocolo de intenções com o Grupo Lactalis, em maio. O investimento a ser aplicado, de aproximadamente R$ 37 milhões, fortalece a expansão das atividades do segmento de lácteos nas cidades de Ravena, Pouso Alto e Antônio Carlos (Curral Novo). A Lactalis entrou oficialmente no mercado mineiro ao adquirir a Itambé, anteriormente controlada pela Cooperativa Central dos Produtores Rurais (CCPR). Também neste ano, o governo do Estado e representantes do governo da Bulgária iniciaram as tratativas para instalação de um laticínio no município do Serro, na região Central do Estado. A proposta da indústria é fabricar iogurtes, coalhadas e queijos com tecnologia búlgara, tanto para consumo interno quanto para exportação. Uma outra oportunidade para o segmento mineiro de lácteos surgiu com a habilitação de empresas mineiras para exportar para a China. Esse país apresenta enorme potencial, tendo em vista a grande concentração populacional, e está inserindo em seus hábitos alimentares o consumo de derivados do leite.

 O sucesso internacional do Queijo Minas Artesanal de leite cru e o Selo Arte já provocaram algum movimento relevante de exportação? 

 Há movimentação em toda a cadeia para estruturação do setor, visando a exportação, mas para isso ser concretizado é necessário que os estabelecimentos tenham registro do Serviço de Inspeção Federal (SIF), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e cumpram as exigências previstas na legislação de cada país importador. Por exemplo, o que é exigido na China não é o mesmo que nos países europeus. Também é importante considerar que existe um grande mercado consumidor interno para os queijos artesanais mineiros, sobretudo nos grandes centros, que, no momento atual, têm sido capaz de absorver essa produção. Então, entendo que será um processo natural de abertura da exportação, não apenas dos queijos artesanais, mas de outros produtos tradicionais mineiros, como a cachaça e o mel.

 Donos de fazendas no Norte de Minas reclamam do impedimento de avançar com as culturas em áreas superiores às reservas legais de 20%, especialmente na mata seca. O Estado pretende mudar alguma coisa nessa regulação?

 É preciso que os produtores da região entendam que a legislação que determina as áreas de reserva legal e a mata seca é definida pelo governo federal, cabendo ao Estado legislar sobre esses parâmetros ou ampliá-los, nunca reduzindo as áreas já delimitadas. O governo de Minas tem trabalhado no sentido de discutir com os órgãos federais os marcos regulatórios para viabilizar as atividades produtivas sem comprometer as questões ambientais.

 Fonte: Jornal OTempo – 08/09

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