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A revolução do carro a álcool

24 de Setembro de 2019

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Por Mario Garnero, presidiu a Anfavea entre 1974 e 1981

Extraído do jornal O Estado de S.Paulo, 24/09/19

 

Na quinta-feira, dia 19 de setembro, completaram-se 40 anos de uma cerimônia histórica para o Brasil e, particularmente, para a indústria automobilística brasileira. Nesse mesmo dia de 1979, então presidente da Anfavea, assinei junto com o vice-presidente da República Aureliano Chaves, o ministro da Indústria e Comércio João Camilo Pena e com Cesar Cals, ministro de Minas Energia, na presença do presidente João Figueiredo, um protocolo que viabilizou a produção de veículos automotores movidos integralmente a álcool.

Com o barril do petróleo atualmente em US$ 65, em 40 anos, em valores correntes, poupamos mais que US$ 15 bilhões em divisas. Além disso, a poluição do ar em São Paulo, a cidade com a maior frota de veículos, foi reduzida em cerca de 40%, conforme estudos desenvolvidos pelo Berkeley Lab, da Califórnia. E é preciso destacar que a produção da cana-de-açúcar não arranhou nem mesmo um hectare das terras da Amazônia legal.

Por causa do uso de biocombustíveis e de medidas como o rodízio de veículos, embora a cidade de São Paulo tenha uma frota de 8,5 milhões de veículos, ela não tem a mesma poluição do ar que metrópoles como Beijing, Délhi e Cidade do México.

Mais importante: proporcionou um salto monumental na agricultura brasileira, que de 6 milhões de toneladas de soja colhidas, naquele ano, atingiu 127 milhões de toneladas neste ano, e conduziu-nos a ser o maior produtor mundial, sem desmatar ou incendiar a Amazônia.

Em 2003 foi lançado outro grande avanço tecnológico da indústria automobilística, o carro flex, e temos hoje no Brasil uma frota de veículos flex de 30 milhões de unidades, equivalente à frota de automóveis da França.

Este simples apanhado é o retrato de um país preocupado em continuar sendo um país que cuida bem de sua megadiversidade e protege 74,5% de suas terras.

De sua história desde o ProÁlcool até o protocolo assinado entre a iniciativa privada e o governo, a lição que fica é a da união de esforços que produziu, no curto prazo, 5 milhões de veículos a etanol e ajudou a integração nacional nas áreas de agricultura, comércio e indústria.

O poder público e os empresários foram seus artífices, todos congregados na Comissão Nacional de Energia (CNE), onde o protocolo se originou.

De 1976 a 2018 foram substituídos o uso e a importação de mais de 3 bilhões de barris de gasolina, um marco significativo para um país que possui reservas provadas de 12 bilhões de barris, incluindo o pré-sal. O valor econômico da gasolina substituída, calculado pela Datagro, equivale a mais de US$ 506 bilhões.

E, nesta mesma semana em que o Brasil comemora a assinatura do protocolo do carro a álcool, a Toyota surpreendeu o mundo com a inclusão, em sua linha, do primeiro veículo híbrido, que pode rodar com um motor elétrico ou motor flex, que mistura álcool e gasolina em qualquer proporção. Este já pode ser considerado o carro mais limpo do planeta, pois emitirá, nas ruas, apenas 27g de CO2 por km.

A demonstração eloquente da substituição de carbono que empreendemos com o carro a álcool – um sucesso mundial – se completa com o nosso Código Florestal, as reservas de áreas de preservação permanente, o respeito aos índios e, agora, o apoio e participação do Exército para coibir e punir os responsáveis por desmatamentos ilegais e, acima de tudo, pelas queimadas, já disciplinadas em São Paulo e que deveriam há muito ser coibidas ou controladas pelo poder federal.

Neste momento de reflexão sobre nossos erros na condução da política para um desenvolvimento programado para a Amazônia, que o susto pelo qual passamos nos sirva de alerta para termos uma preocupação permanente com o meio ambiente e a nossa extraordinária agricultura.

Sinto-me honrado em ter meu nome associado a esta saga que lançou o Brasil mundialmente à frente, ao criar a gasolina verde. Penso apenas que perdemos a batalha da comunicação, pois nenhum país fez tanto na área da mobilidade quanto o Brasil, que sofre hoje críticas injustas, mesmo tendo desenvolvido o mais coerente e eficiente projeto de redução de emissão de carbono.

 

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