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A modernização no campo

28 de Outubro de 2019

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A mecanização da lavoura alterou o perfil do trabalho no campo nos últimos 11 anos, com a redução da mão de obra utilizada, mas continuou a impulsionar de maneira notável a produtividade em diferentes setores. Entre 2006 e 2017, o rendimento médio da cultura de soja, por exemplo, passou de 2.583,67 quilos por hectare (kg/ha) para 3.357,66 kg/ha, uma evolução de praticamente 30%, como mostrou o Censo Agropecuário 2017 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira passada.

O que torna ainda mais relevante esse avanço é o fato de que a cultura de soja vem registrando ganhos expressivos de produtividade desde sua consolidação no País, em 1970, e com maior intensidade a partir dos anos 1980. Também outras culturas importantes para o comércio exterior do Brasil e para a mesa dos brasileiros registraram aumentos substanciais de rendimento nos últimos anos. Entre essas estão as do milho em grão (a produtividade cresceu 56,3% entre 2006 e 2017), do arroz em casca (60,6%) e do feijão em grão (46,4%). Esses resultados comprovam que o crescimento da produção vem sendo alcançado com aumento bem menos intenso da área cultivada. Também a pecuária leiteira vem registrando ganhos expressivos. Em média, entre 2006 -- ano do Censo Agropecuário anterior -- e 2017, a produção anual de leite por vaca passou de 1.618 litros para 2.612 litros (aumento de 62%).

No período entre os dois últimos Censos Agropecuários, o número de estabelecimentos com tratores aumentou 50%. Aumentou também o número de estabelecimentos com semeadeiras/plantadeiras, colheitadeiras e adubadeiras/distribuidoras de calcário. É mais intenso também o uso de meios de transporte como caminhões, motocicletas e aviões.

O processo de mecanização, de acordo com o gerente técnico do Censo Agropecuário, Antônio Carlos Florido, é crescente e contínuo.

A consequência, além do aumento da eficiência dos estabelecimentos agropecuários, é a redução da mão de obra empregada. "Quanto mais automação, menos gente na produção", observa Florido. "Isso tem acontecido em todos os setores da economia, não é algo restrito ao setor agropecuário."

Também a qualificação dos que continuam a trabalhar no campo vem mudando. A substituição gradativa do trabalho braçal por máquinas agrícolas exige um número crescente de trabalhadores do campo qualificados para operar essas máquinas.

Há um exemplo especial da substituição do trabalho humano por máquinas, o da cultura de cana em São Paulo. A proibição da queima da cana como preparação para a colheita forçou a substituição do homem por máquinas. Florido estima que uma máquina substitua em média 100 trabalhadores. "Quem não se qualifica tem que fazer trabalho braçal e o trabalho braçal está terminando."

O processo é longo e contínuo. Em 1985, os estabelecimentos rurais empregavam 23,9 milhões de trabalhadores (média de 4,03 empregados por estabelecimento). Em 2017, eram 15,1 milhões de empregados (3,0 por estabelecimento). Apesar da expressiva redução da mão de obra empregada na agropecuária, o IBGE não considera que esteja ocorrendo um êxodo rural.

O que se observa é o envelhecimento da população no campo. O porcentual de produtores com mais de 65 anos, por exemplo, aumentou de 18% para 23% do total entre 2006 e 2017. Na faixa etária oposta, a dos mais jovens, ocorre o inverso. Em 2006, 39,4% dos proprietários rurais tinham menos de 45 anos; em 2017, a proporção era pouco superior a 30%.

Nesse período, a agricultura familiar perdeu 9,5% dos estabelecimentos e 2,2 milhões de postos de trabalho (o número de empregados na agricultura não familiar aumentou 702 mil nos 11 anos considerados).

Quanto ao uso de agrotóxicos, o número de estabelecimentos que admitem o uso desses produtos aumentou 20,4%. Um dado considerado grave pelo IBGE nessa questão é que, dos produtores alfabetizados que utilizam agrotóxicos, apenas 30,6% declaram ter recebido orientação técnica a respeito da aplicação do produto. O que preocupa não é o agrotóxico, mas seu uso por pessoas não devidamente instruídas para isso.

Fonte: O Estado de São Paulo – 28/10/19

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